quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

- eu ganhei.. aquele pouco de tempo que tanto precisava!
- e te adiantou em algo?
- pra ser sincera?
- é..
- não! acho que só piorou as coisas..
- fora?
- dentro!
"[...]Você não vê que êsse exemplo também não serve? Se você é simples você tem que contar uma pequena estória simples, de uma forma simples. Então vou começar: era uma vez um rato que tinha muita vontade de subir um muro. Muito bem, e depois? Êle tentava, tentava, mas o muro era muito alto e as pedras do muro muito lisas. Nas noites, êle ficava junto ao muro e levantava a cabecinha para ver se era possível a escalada. Era possível? Para dizer a verdade, não era, mas o rato não compreendia. E daí? Daí ele passou a vidinha inteira olhando para o muro e muitas vêzes êle dormia de cansaço, lógico, mas no sonho êle subia o muro. Aí era uma beleza, lá em cima tudo era maravilhoso, mas acontece que êle sonha todas as vêzes que dorme e depois de algum tempo o sonho torna-se angustiante porque êle já viu tôda a paisagem, há montanhas, rios, árvores, diferentes espécies de animais e êle sente que tudo isso é apenas uma pequena parte de um mundo nôvo, que devem existir outras coisas ainda mais belas e ai êle deseja... Ter asas? Não. Êle deseja, no sonho, que o muro fique mais alto, êle nem pensa em ter asas, minha querida, êle é um rato. Escute, você sabe que os animais têm alma? E que a alma de um animal quando se desprende do corpo vai para um lugar muito bonito e fica ali durante algum tempo, conforme a afeição do seu antigo dono? Como assim? Você tem um cão, êle morre, você não o esquece jamais e, nesse caso, êle ficará ali eternamente. Ali onde? Naquele bonito lugar. E no dia em que eu não me lembrar mais dêle? Êle se reencarna. Então é melhor que a gente se esqueça, assim o nosso cão terá a chance de uma nova vida. Não sei, não sei, eu acho que seria melhor que êle ficasse naquela espécie de limbo. Ah... é assim que você tem vontade de ser, não é? Você não quer lutar, você quer existir sob a proteção de uma memória, e ao mesmo tempo ficar no seu canto. Bela merda. [...]"

Hilda Hilst.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

"[...] Morreu do quê? De saudade. De tifo. As menininhas morrem muito de saudade e de tifo. Que idéia! Olha o retrato dêsse homem tão gordo, olha as palavras gravadas: saudades imensas, imorredouras, da sua espôsa e filhos. Êle devia ser rico, é tudo de mármore côr-de-rosa, vê, vê só o tamanho das estátuas de Jesus Maria José. O irmão pederasta disse: era um homem que fornicava às tardes nos bons bordéis da cidade, tinha um negócio de tecidos, não, de frigoríficos, dormia de cuecas e bôca aberta, rosnava para os lados assim que acordava, a mulher o traía em sonhos com o sócio da firma, à noite êle chegava limpando o rosto com o lenço, tirava os sapatos e tomava uma cerveja antes do jantar. A mulher dizia: então que fizeste? Êle respondia: gaste menos, gaste menos, o mercado não anda bom. Comiam em silêncio e algumas vezes na hora de fornicar êle batia nas coxas da mulher e repetia: gaste menos, coma menos, o mercado não anda bom. E as banhas dêle desabavam sôbre ela. Ela chorava de madrugada, pensava na mãe, naquele namorado frágil de camisa aberta no peito, e pensava também na casa onde ela morou quando criança, uma casa tôda azul, frente para o mar. Meu Deus, que estória horrível. [...]"

Hilda Hilst.

sábado, 26 de janeiro de 2008

e eu tive a leve impressão de que já havia lido aquele livro antes.
as palavras ocultas, subentendidas.
as rimas, os versos.
e tudo o que te compõe.

(?)

se eu tivesse um pouco mais de tempo...
talvez eu pudesse ajeitar as coisas.

e tudo ficaria mais.. claro

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

.

eu não entendo como algumas pessoas podem apenas fingir que não tem nada com isso. ou que não tem culpa.
para! ninguém aqui precisa fingir, muito menos se esconder.

aah, talvez tudo que eu precise seja só respirar um pouco.

domingo, 13 de janeiro de 2008

é o que o tempo leva.

- e eu só queria entender. pelos fatos, pelas coisas jogadas..
- por tudo o que eu já tinha superado, é? e pelas lembranças que você insiste.. aliás, por que diabos você insiste nisso?
- porque você é como um furacão.
- é, é estranho ficar em silêncio quando tudo o que eu quero fazer é soltar tudo.
- gritar e espernear feito uma criança mimada?
- é, é que o tempo já não tá me fazendo efeito. é que a distância não me sufoca mais, entende?
- entendo. é que tudo o que tu sentia, o vento levou.
- e o que eu sinto é novo, muito novo. como um dia tudo isso foi.
- é que tudo um dia, fica velho, e a gente esquece.
- mas como a gente pode simplesmente esquecer uma coisa tão..
- tão nada, tão nada!
- você é que nunca esqueceu.
- eu ainda queria entender, pelos fatos, por que tu deixou as coisas tão jogadas!

sábado, 12 de janeiro de 2008

teu silêncio junto ao meu.

Tu vai embora. Eu te sigo, insisto, irrito. Tu não me fala nada, nenhuma palavra, nenhuminha. Você me diz o teu silêncio. Aquele, que não entendo. Que quer dizer tu assim, nesse teu silêncio agonizante? Que quer de mim?
Nada. Não quero nada. Só quero teu silêncio junto ao meu. Quero as palavras ocultas. Quero-as escondidas, dentro de ti. Isso, assim. Melhor. Desse jeito não dói o coração. Mas as palavras, aquelas que sempre surgiram de dentro de mim e ti. Confesso que gostava, é do outro jeito. Gostava. Pois agora desgosto, assim, sem nem um porquê.