segunda-feira, 30 de junho de 2008

o papel de parede havia desbotado. tudo permanecia quente e úmido. fedendo a coisas envelhecidas. é disso que estou falando. envelheceu e enrugou. foi embora e eu nem percebi. mas a música continua tocando. e é tão suave. já me sinto distante do chão. flutuando com tanta leveza e doçura. o desenho que preguei na parede há alguns meses atrás não está mais lá. e eu quase me convenço de que foi você quem veio, sorrateiro como um gato, misterioso, silencioso e esquecido, e o tirou de lá. eu sei que eu não devia fazer um passado tão distante voltar de repente. porque as coisas não são mais as mesmas. e se aqueles sentimentos quebrados voltarem, faço o que com a solidão que me acompanha há tantos anos?

domingo, 29 de junho de 2008

das minhas paredes

dezessete e quarenta e três. quase um quarto de hora. ainda não comi nada o dia todo. o cansaço me consome. vai além de qualquer dessas quatro paredes. a noite passada foi cansativa e eu mal dormi. não me deixaram. pelo menos eu fiquei umas boas quatro horas naquela cidade fria. debaixo de um cobertor quentinho. seis pés. ah, se ele soubesse o que aconteceu naquela noite em que me deixou aqui sozinha. eu faria questão de vomitar todas as palavras que me engasgam. jogar tudo e te bater na cara. o culpado das paredes azuis. das minhas repetições.

domingo, 22 de junho de 2008

as palavras giraram em sua cabeça, os sentimentos se perderam no vazio do que um dia ainda chamaram de "coração". e tudo ficou cada vez mais confuso. fechou os olhos. pegou suas coisas e seguiu um caminho. não olhou placas. não se entendeu por certo ou por errado. pegou a direção contrária. o oposto. então, se perdeu em uma enorme tempestade e foi parar no mar.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Ele a viu sentada em uma escadinha qualquer daquela avenida. Sozinha.
- vendo o tempo passar?
- não.. eu estava pensando nos sentimentos.
Ele se sentou, e começou:
- bem, você não acha que seria mais fácil se você despejasse tudo, largasse assim.. pela estrada?
- não! isso seria bem mais difícil. pense comigo; eu tenho que dar tempo ao tempo, porque abandonar a caixinha em que guardo todos eles em qualquer lugar do caminho, doeria muito mais. e talvez, depois de deixá-los tão repentinamente.. isso seria bruto demais, e minha alma se sentiria presa a um vazio que não é necessário existir..
- mas e se você completasse, de alguma forma, esse vazio?
- eu não vejo porque me preocupar com algo que não precisa nascer em mim.. eu não o cultivaria até plantarem sementes novas nele. o certo a fazer agora.. bem, eu não diria o certo, mas o que está me fazendo melhor.. é apenas o tempo, e a distância. me distanciar.. isso!
- dos sentimentos?
- sim, também.. de tudo. me isolar numa bolha!
- se isolar numa bolha? hahaha
- sim.. você já viu aquele filme em que o menino..
- já, já! continue o que estava dizendo.
- tudo bem.. não! eu não quero mais falar disso! eu prefiro ficar sentada aqui.. e sozinha. pensando..




eu peguei todas as "memórias de algum" e guardei em uma pasta. eu não preciso deletar. eu posso apenas armazenar por tudo ter me feito tão bem naqueles momentos. ,)

sexta-feira, 13 de junho de 2008

fugir
correr pra bem longe dessa loucura
chutar tudo
chutar o mundo

desaguar no
pacífico.

fechar os olhos
dormir

desanuviar

esquecer do mundo.





(foram dias estressantes e cansativos em que, realmente, eu queria muito chutar o mundo. mas já passou.)

sexta-feira, 6 de junho de 2008

me incomodo com as cruzes à estrada
me incomodo com o mau cheiro das pessoas
como formol dos corpos num frasco de vidro
corpos em conserva.

faz arder os olhos.

eles agora lacrimejam
frágeis, as pálpebras
tremulam
praguejam.

o formol me fez fraquejar
e entorpecer os passos.