domingo, 28 de setembro de 2008


IV

Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo. Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?


Do desejo - Hilda Hilst 1992

terça-feira, 23 de setembro de 2008

I

Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.

(Do Desejo - Hilda Hilst 1992)



é só um trecho. ,)


sábado, 20 de setembro de 2008

faz tempo que eu não escrevo nada por aqui ou em papel algum. talvez seja pela minha falta de tempo ou de apetite por certas coisas. é, aquelas que antes alimentavam minha alma de uma forma surpreendente, e que agora não me servem mais. nem para me vestirem como roupas ou caírem como luvas.


há algum tempo que elas se escondem de mim. saem rindo com um certo deboche, um ar de superioridade.